O VIII Congresso do MPLA mostrou ao mundo, ser um partido de casta, em que o poder absoluto está concentrado no presidente, para gáudio dos seus egos. A sala foi grande, para gente pequena, nos propósitos. Violar os Estatutos. Consolidar a monocracia e espezinhar a Constituição e as leis. Cunhar impressões digitais no regabofe de descaracterização do MPLA, 2794 (dois mil, setecentos e noventa e quatro) delegados, dentre os quais, 1520 licenciados, 316 mestres, 81 Phd e 877 técnicos médios, que não conseguiram parir uma ideia consistente e nacionalista.
Por William Tonet
Os filhos e netos os verão, num amanhã próximo, como escória ideológica, que assassinou os ideais do próprio partido, infundindo na sociedade a ideia de partido burlão, fraudulento, sem seriedade e ladrão de votos. Aliás o congresso da JMPLA demonstrou isso mesmo: mais votos que eleitores. O batoteiro/perdedor ficou no poleiro, tomou posse como membro do bureau político do MPLA, o honesto/vencedor foi atirado borda fora.
Os deste MPLA mostram uma altivez exibicionista, sem paralelo distante do MPLA mais recatado e com maior maturidade política, em momentos de crise social e política.
Como entender que tantos militantes com canudo, orgulhosamente “sôtores” se transformem em “ardósias mentais”, incapazes de burilar, projectos substantivos, quando os povos definham a fome?
Mais, o objectivo primário não parece ter sido o de revitalizar as estruturas do partido, mas consolidar o poder absoluto do “chefe”, abrindo a grande avenida da violação dos estatutos, para acomodar a bicefalia, antes (2017-tempo de JES) combatida, em melhor ambiente económico-social, tendo-o como o mais forte opositor. Hoje, caricatamente, por vaidade umbilical é acérrimo aliado. A cartada foi a de matar dois coelhos, com uma só cajadada, aproveitando a covardia e falta de união dos históricos e novos, visando:
a) a alteração conseguida dos estatutos tende a permitir a sua permanência (não de outro), na liderança do MPLA, no final do segundo mandato (2017-2022/2022-2027 – 10 anos), como rezam os estatutos e a Constituição;
b) com este modelo de bicefalia o objecto em 2027 é, qualquer que seja o resultado eleitoral, passa a dominar e a controlar, com exclusividade, como líder do partido, a bancada parlamentar do MPLA e a influenciar ou condicionar a agenda do futuro Presidente da República;
c) outro objectivo não descartado é o de antes de 2027, manter a “fidelidade canina” dos partidos laranjas (FNLA, PRS, PHA) a manterem-se fiéis e arregimentar “toupeiras” na bancada da UNITA (integrantes da FPU, quantitativamente identificados), para o apoiar na possibilidade de atingir os 2/3, para alteração da Constituição, visando um terceiro mandato;
d) em flagrante delito, João Lourenço violou os estatutos e os procedimentos legais, na espúria justificativa de não ser o pai da criança, porque antes, também, em congressos extraordinários, foram cometidos, seis “homicídios normativos”, nessa óptica, o seu (sétimo) adquiria legalidade.
O presidente do MPLA, com a fórmula “doping coacção”, obteve a maior vitória, domesticando 2.794 delegados, que temerosos com o poder das suas algemas e masmorras, “foram bem comportados”, não fosse o diabo tecê-las…
Com a concentração de poderes estatutários, constitucionais, aliados a máquina de defesa e segurança, tornou-se no homem mais poderoso, em oito anos. É obra!
O MPLA com históricos e antigos, sofreu a maior derrota e humilhação colectiva, no VIII congresso extraordinário, mostrando ser uma organização de medrosos e covardes, indiferentes a baixa popularidade da organização, a miséria dos povos e o definhamento do país.
Mas, ainda assim, a exemplo de César (imperador de Roma) e Abimeleque (juízes-Bíblia), pode, no andar da carruagem, tornar-se, à curto prazo, no mais fragilizado líder, face a divisão no partido, a união dos humilhados, aumento dos desempregados, da fome, miséria, que se podem unir num grande “oceano de revoltados”…
TESES EPILÉPTICAS SOBRE 50 ANOS
Definitivamente, “este MPLA“, hoje mais se parece com um “partido chiclete”. Não consegue esconder, sequer a trama e o compromisso bélico com o ilícito, a violação, a fraude, a batota, a mentira. Adultera a própria história, idolatra infiéis e assassinos e apaga o percurso de nacionalistas. Conta estórias da carochinha, para desdenhar e minimizar o papel de revolucionários consequentes.
Vejamos:
1.º Equívoco (pag.ª12): A tese mente, quando diz, que o MPLA: “consolidou a independência nacional, assegurou a defesa do país e a soberania nacional, abriu o país a democracia multipartidária e a economia de mercado, num ambiente de paz e reconciliação nacional” O MPLA consolidou, sim, o seu poder (diferente da independência), através da subversão dos órgãos de soberania. Escancarou o país ao capital estrangeiros e a novos colonialistas. Quanto a democracia, por sua vontade, nunca a abriria. Manteria a tese de partido único e da ditadura do proletariado. Ela chegou fruto da guerrilha da UNITA, e Acordos de Bicesse, em 1991.
2.º Equívoco (pag.ª 14): Confunde uma ideia, uma proposta de um grupo de nacionalistas, em 1956, de aglutinar todos em torno de uma causa comum, através de um “Amplo movimento popular de libertação de Angola”, nunca materializado, na criação de um movimento. Engano! Não houve acta, lista de presença dos fundadores, constituição, logo, nunca nesta data foi criado o MPLA…
3.º Equívoco (pag.ª16): A Tese tenta apagar a verdade ao falar sobre conflitualidade “gerada pelo grupo Viriato da Cruz e Matias Miguéis que se juntaram à UPA”. Na verdade isso deveu-se a uma crise causada por Neto, que quase expulsou os outros, que para continuarem a luta de libertação, juntaram-se a UPA. A Tese deveria dizer como eles acabaram: Viriato da Cruz fugiu para a China, onde morreu ostracizado. Matias Miguéis, José Miguel e Ferro e Aço, foram presos, quando fizeram transito, em Brazzaville, por ordem de Neto e enterrados vivos (corpo debaixo da terra e cabeça em cima (muitos cuspiam, mijavam e atiravam areia) 48 horas depois sucumbiram. Bárbarie! Foi com base nisso, que o comandante Gourgel, da FNLA, prendeu o grupo de Deolinda Rodrigues. Disse a Neto para libertar o grupo de Matias Miguéis e ele faria o mesmo com o destacamento feminino do MPLA. Neto partiu para os extremos e o comandante da FNLA fez o mesmo. Por isso, muitos consideram Agostinho Neto cúmplice pela morte de Deolinda Rodrigues;
4.º Equívoco (pag.ª18): A tese mente, ao passar uma borracha sobre a verdade do congresso de Lusaka, que não decorreu sob iniciativa de Agostinho Neto e sua direcção em Brazzaville. Ela decorreu fruto da “Rebelião da Jiboia”, na Frente Leste, dirigida pelo comandante Katuwa Mitue, que questionava os métodos de Neto. O congresso de Lusaka visava acabar com a divisão no seio do MPLA, mediado por Kenneth Kaunda e junto três segmentos das forças desavindas: a) facção presidencial de Neto – 190 delegados; b) facção de Katuwa Mitue, por analogia designada Revolta do Leste, onde estava Daniel Chipenda, suspenso por Neto – 190 delegados; c) Revolta Activa -90 delegados. O Congresso realizou-se, mas Neto sabendo que perderia nas eleições, abandonou-o antes do dia da votação, por sugestão de Nito Alves, que o salvou de uma derrota humilhante, aconselhando-o a voltar para Brazzaville e enviar uma delegação para Luanda: “quem tem a capital, controla o poder”. No final Daniel Júlio Chipenda é eleito democraticamente, o primeiro presidente do MPLA, mas o seu oponente, já estava em Luanda. Foi assim que o catalogaram de Facção Chipenda.
5.º Equívoco (pag.ª19): A Tese mente sobre o 27 de Maio de 1977. Desde logo porque não se apurou fraccionismo. Os acusados nunca foram ouvidos. O golpe de Estado apenas existiu na “geografia mental” de Agostinho Neto e pares, que precisando de exercitar o seu masoquismo, o forjaram para fazer limpeza ideológica, assassinando, sem julgamento, camaradas mais competentes e comprometidos com uma Angola diferente. Nito Alves, Zé Van-Dúnem, Monstro Imortal, Sita Valles, Rui Coelho e outros, não tiveram julgamento justo, porque Neto disse: Não vamos perder tempo com julgamentos”. Resultado: 80 mil mortos. O MPLA não consegue mostrar uma unidade, armas e instituição que tenha um furo de uma bala dos ditos fraccionistas, que são os assassinos de Agostinho Neto, que foi um monstro, com esta barbárie. Faltou a verdade. Nunca houve dois lados: Nito e Neto! Apenas um lado assassino, indiferente a lei e aos direitos humanos. 6.º Equívoco (pag.ª20): A Tese mente e mostra o pico da bajulação e idolatria barroca, ao minimizar o homem dos 38 anos, Eduardo dos Santos a quem dedicam uma mera citação na tomada de posse em 1979: “O Camarada José Eduardo dos Santos referiu o seguinte, na tomada de posse para o cargo de Presidente da República, facto do qual se destaca a célebre citação deste “Não é uma substituição fácil, nem tão pouco me parece uma substituição possível, é apenas uma substituição necessária”.
E, logo depois, na mesma página e seguintes surge a bajulação, como se JLO fosse o mais antigo dirigente do MPLA. “No quadro da sucessão na liderança do País, à luz dos Estatutos do MPLA, o Comité Central designou o Camarada João Manuel Gonçalves Lourenço” (…) No VI Congresso Extraordinário, realizado a 08 de Setembro de 2018, o Camarada João Manuel Gonçalves Lourenço, foi eleito Presidente do MPLA”. E por aí segue. Quem viola as suas leis e assassina os seus dirigentes, não tem depois, moral para higienizar a política e a ética partidocrata, com a garantia que alguma vez aceitará alternância através do voto. Porque o seu “modus operandi” no VIII congresso, foi igual ao de organizações messiânicas, que limitam a liberdade de expressão e algema as opiniões, dos que ousem ter coluna vertebral erecta. Os delegados pareciam um exército de títeres, submissos a um Kalifa, que adopta a lei da sharia. Daí o mutismo ter superado o ruído das moscas.